quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Velcro



Deveríamos prestar atenção no que sopra a vida em nosso ouvido gelado. Tenho ouvido essas tantas coisas, tantos tons que escorregam no caracol da orelha. Perdem-se na profundidade musical que enleva meu tempo. Já tarda a noite antes que ardam as estrelas. Elevadores na espinha se ativam, abraço, perfume, velcro. Ainda é cedo.
Sabe aquela sensação de ver filme no cinema (vídeos sobre nós), na madrugada que espreita o interesse na história? É a sensação que define o registro, como anestesiar-se com a poção mais elaborada da natureza.
Deveríamos prestar atenção agora em nossos olhos, totalmente compreensivos uns dos outros, enamorados e embriagados. O que eles devem pensar sobre essa proximidade, olhos se conhecendo? Preciso ver teu olho assim, que te vejo por dentro. Janela panorâmica de muitas paisagens de sonho, no tom de penumbra que revela a descoberta. As mãos conversam e rimos não sei de quê. Escapismo pro teu corpo, intersecção das linhas das mãos – os destinos se admiram.
- Que horas tem o relógio lá fora? – pergunta ninguém, pois se perdeu noção de presença. Talvez escorressem tonais alegrias em outros ouvidos, dos outros. Que outros? A noite fechou-se da gente. E assim saímos do planeta por algo fora-do-tempo. Onirismo prático para despertar. Não há fração do momento. Ele é um único lapso e a soma do mais puro. 


Marli Gadot

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