sábado, 27 de outubro de 2012

não tem texto.

Aqui não é só blog de texto, conto. Aqui também tem pretexto, ponto. Pronto.

Saudade de amar no mar, amargura batendo onda estanque na primavera, queria eu ter saudade, saúde, idade, pra ser eu mesmo só, junto a diversidade.

Eu amo o meu amor e isso já é texto pronto.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Onda

Eu acordei de luto, completamente sem sentido e afastado de mim. Nada de alívio, sempre o pesadelo das ondas altas. Hoje sonhei que estava num prédio toda espelhado por fora. Do 8º andar (calculando pelo ângulo da minha visão, que ainda me recordo), via ondas que assolavam Copacabana, espancavam a Princesinha - talvez o sonho se deva ao fato de estar planejando ir à praia hoje. Essas águas se agrupavam e quando faziam maior massa no corpo magistral que surgia pronto para cair, recomeçavam o movimento; via algumas pessoas submersas, tranquilas, sob a onda - talvez essa imagem do sonho se deva à sequência de um filme bobo que passava à noite na tv, quando um homem tentava se salvar do fogo pulando dentro de uma água cristalina, de tom esverdeado. Meu pesadelo era assim; mas as pessoas não eram revolvidas, trazidas ao movimento da onda. As pessoas ficavam por lá, como se estivessem dormindo, de trajes de banho. 

Neste 8º andar, funcionava uma espécie de escritório burocrático - talvez essa imagem do sonho se deva à lembrança do escritório da Porto Seguro, no Centro do Rio, onde fiz o seguro fiança do apartamento que alugo; mas com a presença desse mar bravio. Por ser este ambiente, cheguei a este local com minha  máscara usual de sorriso e gentileza. Fui eu quem os alertou sobre o que acontecia no mar. O som era forte, estrondoso, impaciente e eles ainda não haviam se tocado de que o mar estava diferente. Convidei-os à janela, para que vissem a realidade e todos se chocaram. Ficamos todos calados, observando com foco o que ocorria: as ondas se agrupavam e quando faziam maior massa no corpo magistral que surgia pronto para cair, recomeçavam o movimento. 

Sonho não tem imagem, insisto em dizer isso. A impressão é que sonhamos em preto e branco, meio sépia. Mas as imagens são transformações da realidade mental, nosso arquivo. São fatos, palavras, mas não no que percebemos, mas pelo o que o cérebro percebe e faz suas conexões elétricas para estabelecer também associações. Por isso não temos imagem, nem cores. Temos lembranças, mundo fragmentado, que percorrem a formação de imagens. É sempre forte algo que se sonha, pois é um mosaico mais detalhado de que se tem conhecimento, uma colagem de fatos já passados. Eu tenho 25 anos - tudo isso de poros abertos, sentindo e me relacionando com o mundo - e também, registrando.

Minha vontade, caso eu vivesse o que sonhei, seria abrir as janelas e me juntar às pessoas que estavam sob as ondas - parecia ter uma camada de vidro sobre elas. Queria pular em cheio numa das ondas e deixar meu corpo explodir com a força de todos os movimentos da Terra. Queria perder todo o meu sentido, porque tudo é assim mesmo. A gente é dividido em fragmento de alegria e fragmento de tristeza. Mas quando vem a sucessão da angústia, da melancolia, do fato de não conseguir controlar a besta-fera que reside em mim... ela me controla e é por isso que eu tentaria voar sobre as ondas. Eu tenho medo do mundo e estou com medo de mim, que tenho medo do mundo. Eu tenho medo de todo mundo e me dói muito as poucas horas em que passo com o mundo.

Eu preciso nadar numa onda, preciso tentar repetir a posição do homem sob a onda ameaçadora. Eu vou hoje afundar o meu ser sob o mundo, sob a água, de olhos fechados, com água ao redor do corpo. Me afastar de tudo e de mim, esquecer do mundo. Eu quero olhar da praia algum 8º andar de um prédio pra tentar me encontrar, quero ver o mar na fachada espelhada. E quero ver a imagem brotar no espelho, gigante: se der sorte, que essa onda avalanche estanque no peito, se agigante da minha fragilidade e me engula o corpo inteiro. Quero me deixar, quero lavar os lutos, completamente sem sentido e afastado de mim.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Nuvens


É engraçado... você está em tudo, presente em todos os meus olhares, em todo o meu mundo. É impressionante... as nuvens despencam pela montanha, nada densas, espalhadas. Instantaneamente, me vem uma voz interna que não é minha, mas é sua, compartilhando as belezas e a efemeridade dos acontecimentos naturais... daí vem um click, uma foto, um sorriso, um olhar distante. E o meu olhar no seu, até nos momentos em que estamos longe.

Marcelo Asth

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Eterno

Sei que sou eterno, uma sucessão de muitos. Dentro disso há toda a dimensão de minha pequenez. Sei e me sinto assim. Me compreendo essa partícula que está no meio das toneladas de pó que se acumulam. E nesta vida, não desejo me punir por não me ver grande. A diferença dos grandes homens para os ditos pequenos é nada. Ser lembrado pela história das bocas? Jamais! Quero a liberdade de ser eu, com todo o limite, criando vínculos, tentando me definir da forma mais aprazível a mim. Não digo: fazer o bem (mesmo este sendo predominância), pois todos somos humanos e os sentimentos espalhamos. Não sou alguém do mal, meus caminhos são guiados pela boa educação de olhar o outro. Doçura. Sou um ser humano meio tépido, em cima do muro, desbotado (nem cor, nem ausência). Sendo assim, todo miúdo, sabendo quem sou, eterno, tangenciando o bem, espalhando o afeto, sei que dali a pouco me torno finito. E vou progredir alma, minha casca estará tombada. Talvez vá pra outro planeta; toda vida é uma missão. Daí posso ser o gigante que alguém espera. Por enquanto, fico aqui, sem anseios de ser o que não posso nem quero. Pois tudo no mundo é a cobrança de ser algo que não é. A transformação é imperiosa e vem gritando, sempre. O que mudar, será mudado. Me esforço para estar mudando para lugares de paz, felicidade. Fujo dos lugares falsos, com muita gente rolando ego, bebendo esgoto, esgotando tudo, fedendo a egoísmo. Busco sempre dignidade, prazer, amor, sexo, família, o bom do conforto (que não se confunda ao luxo) e coisas que encantem meu olhar. Por isso sentencio algo pra mim: não sou acomodado. Por vezes preguiçoso - admito, não há mal algum nisso. Mas é na preguiça que se cria o ócio, que pode gerar o criativo, ou a ruína da ansiedade. Já entendendo o lugar da preguiça, aciono o botão da melancolia e fico ali me maturando até explodir "chega" e sair do ninho. Daí dou boas voltas, faço, faço, faço, faço, ação e me canso. Retorno em vitória. Mas necessito férias. Quero progredir espírito, mas para isso não preciso saber o mundo inteiro. Pretensão saber de tudo, burrice fugir de tudo e se aquietar no nada. Eu sou tépido, meio-fio, em cima do muro, sol das 18h. Não sou o que explode a maravilha de fazer alguém se apaixonar e idolatrar. Não sou o que move montanhas e gentes nos rastros. Tenho minha luz interna, mas é roxa, boa pra ficar numa boa, de abracinho. Eu sou essa coisa que se define e não sabe de nada. Eu amo muito, demais, sou louco e dou o coração em sangue pra ser assim. E meus olhos brilham por isso. Adorei passear por cada canto com o amor, medir ruas e palavras, cama, chão, palavras, cidades, olhares. Estou dentro de outra pessoa também. E quero adorar muito mais, para além. Quero viver como um broto nesse outro, saindo verde pela culatra, esbanjando a clorofila dos ramos felizes. Não quero sofrer, tenho preguiça disso. Sofro no detalhe. Vou alcançar o máximo da liberdade e da felicidade plena no amor. Sou todo eu, todo seu. O mundo vai me consumir, não sei quando. A validade é pouca, outra, um dia a Terra sabe. Pode ser velho, moço, no auge, no fundo do poço. Eu sei que sou dessa pequenez de que são feitas as estrelas bobas, miúdo, com olhos abertos para o que encanta. Eu amo, me amo, amo esse viver a vida. Não tenho grandes expectativas - não serei flagelado por isso. Minha expectativa é estar em sintonia, crescer pra mim mesmo e não me aguentar de sorriso.

Marcelo Asth