segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Recôndito - Marli Gadot


No frigir dos corpos, as almas dão impulso pra se encontrar, mas há um muro de carne. Daí bate um desespero e os corpos frigindo dão iguais impulsos de encontro, com complexidade corporal e com o uso de palavras sonoras. Porque os significados delas não são nada e nem precisam ser, apenas o som que explode nos pode instalar a impressão de quem frege. Ficam perdidos, colidindo membros e peles suadas curiosos de labirinto e, buscando no mapa da pele, a alma se escapa um pouco, visita a outra no corpo alheio. Com muito prazer e tanto fluído, as almas se unem em energia solar e os corpos se adormecem azoinados em letargia, extasiados da completude e da identificação de névoas e borrascas antes longínquas. E todo esse estado leva a lentes prolixas, de tanto encontro, pois tudo fica em compreensão rebuscada, como apenas palavras sonoras. Daí se estende um campo verde sob a cama, nascem as flores que o outro mais gosta e um vento que não é frio nem quente - que apenas movimenta o silêncio – instaura um vácuo profícuo. Sonham entranhados e realizados de pureza. E tudo fica inócuo, rodando, rodando em espirais que transbordam caudalosas e abusadas, provocando redemoinhos e tsunamis que afogam impiedosas quando cada um corta um caminho recôndito. 


Marli Gadot

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