sábado, 25 de dezembro de 2010

A escada do sótão

Todo sótão precisa de uma escada pra se preencher. Se não há degraus, não há espera, não há passos verticais. O sótão fica poeira só, sem expectativas de recolher memórias.

É preciso uma escada: caracol, fixa, articulada, telescópica, estilo alçapão, com tampo em painel sarrafeado, acimentada, amadeirada, vitralizada, suspensa por correntes de elos firmes. O que quer que seja. É preciso esse acesso. Porque a cada lance da escada há um esforço pra se chegar. Eleva-se enquanto não atinge outro patamar.

O sótão vazio espera a subida constante. O piso acima do teto, um mundo de não-solidão, é o sótão onde vou me esconder. Sei quem acha rapidamente o caminho.

Escuto os passos que já começam a preencher à princípio com o som. O som do seu movimento. Instalei um sótão na arquitetura só pra podermos viver bem, num tempo à parte. Criei um espaço de prazer pra ler e cantar histórias e estribilhos.

A série de degraus faz ascender o que há de mais esperado. Todo espaço quer ser tomado de liberdade, pôr-se cheio de presença. E parece que quando pisado, o sótão fica iluminado. É como um baú aberto de memória, querendo contar o que já tem guardado. Cada novidade se desvela entre as frestas do chão de lâminas de madeira, que convidam ao recanto o encanto de se receber aconchegante.

Eu planejei este espaço com a mais empenhada engenharia. Você trouxe a escada que o completaria.


Marcelo Asth

2 comentários: