quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Calor

Esta canícula que ferve os miolos, que espeta a pele no mínimo, que coça de sal expelido no corpo, que assa na massa que sai pela rua, que sua a sua roupa, que escorre em cabelos e pinica. Toda esta temperatura que temos que aturar é o limite do fogo selvagem de um ar que agarra a gente tapando os brônquios e evaporando em caretas. Um calor que faz subir baratas dos bueiros e faz sair às ruas o povo que não dorme porque, a esta altura, só se sente calor no colchão. Todos pensam em lamber sorvete.

Todos querem chuva pra lavar a gordura da pele e o quebranto que bate com peso sobre o ser. Mas é preciso erguer-se diante do dia, pegar ônibus lotados, pensar em desistir, andar perto dos asfaltos, desejar líquido gelado a toda hora. É preciso também esquecer-se do sol, olhar o mar de longe e fingir que aquilo não traz prazer algum pra quem se desespera ebulindo.

Esta canícula que fica viciada no meu corpo apenas faz deixar o sangue ralo e faz serem úteis as pás dos ventiladores girando eternas com grades de proteção pra evitar que as pessoas acaloradas se joguem em direção à fabrica de vento.


Marcelo Asth

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