Dramaturgia
Exercício livre. Deu vontade:
O viajante - trecho
(cenário: poste antigo com canteiro à volta no meio da cena. Nada mais. Sempre).
(Homem conserta poste, troca lâmpadas. Um Viajante, com uma mala. Trocam palavras).
Viajante - É hora.
Homem - Tem certeza de que parte hoje?
Viajante - Há uma luz no fim do túnel.
Homem - Sou eu que troco as lâmpadas.
Viajante - Eu busco a luz.
Homem - Mas há um peso sobre mim.
Viajante - Há uma luz no fim do túnel.
Homem - Sou eu que quebro as lâmpadas.
(silêncio)
Viajante - O que há de errado no oeste?
Homem - A corrupção. Eu sei, eu vim de lá.
Viajante - E o que torna um homem corrupto?
Homem - Têm respostas que vem antes das perguntas. O homem corrupto já nasceu. Nada se torna no mundo. Uma lâmpada se acende, um estado de espírito não.
Viajante - E você, quebrando as lâmpadas, faz tudo se apagar. E esse estado de espírito não?
Homem - Uma vez despertado, não. O cérebro capta aquela mensagem e se torna seu. É de sua propriedade a corrupção. Mas te digo, não vou tão mal...
Viajante - É disso que eu fujo. Do que desconheço. Há uma luz no fim do túnel.
Homem - É só uma opção.
Viajante - Essa terra me deu bons momentos, mas preciso saber o que há fora daqui. Não sei pra onde vou. Mas aqui não piso mais.
Homem - Grave bem a imagem desse instante. Percebe quem você é quando sai. E quando diz isso.
(viajante olha à volta)
Viajante - Nada demais. Deve-se ter mais imagens em outro lugar. Permita-me entender. Adeus.
Homem - Um conselho. Quando se vai para o oeste, a bússola costuma se perder.
Marcelo Asth
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