sábado, 18 de setembro de 2010

O viajante

Dramaturgia
Exercício livre. Deu vontade:


O viajante - trecho


(cenário: poste antigo com canteiro à volta no meio da cena. Nada mais. Sempre).

(Homem conserta poste, troca lâmpadas. Um Viajante, com uma mala. Trocam palavras).

Viajante      - É hora.

Homem       - Tem certeza de que parte hoje?

Viajante       - Há uma luz no fim do túnel.

Homem        - Sou eu que troco as lâmpadas.

Viajante       - Eu busco a luz.

Homem        - Mas há um peso sobre mim.

Viajante       - Há uma luz no fim do túnel.

Homem       - Sou eu que quebro as lâmpadas.

(silêncio)

Viajante      - O que há de errado no oeste?

Homem       - A corrupção. Eu sei, eu vim de lá.

Viajante      - E o que torna um homem corrupto?

Homem       - Têm respostas que vem antes das perguntas. O homem corrupto já nasceu. Nada se torna no mundo. Uma lâmpada se acende, um estado de espírito não.

Viajante      - E você, quebrando as lâmpadas, faz tudo se apagar. E esse estado de espírito não?

Homem       - Uma vez despertado, não. O cérebro capta aquela mensagem e se torna seu. É de sua propriedade a corrupção. Mas te digo, não vou tão mal...

Viajante      - É disso que eu fujo. Do que desconheço. Há uma luz no fim do túnel.

Homem       - É só uma opção.

Viajante      - Essa terra me deu bons momentos, mas preciso saber o que há fora daqui. Não sei pra onde vou. Mas aqui não piso mais.

Homem       - Grave bem a imagem desse instante. Percebe quem você é quando sai. E  quando diz isso.

(viajante olha à volta)

Viajante     - Nada demais. Deve-se ter mais imagens em outro lugar. Permita-me entender. Adeus.

Homem      -  Um conselho. Quando se vai para o oeste, a bússola costuma se perder.

Marcelo Asth

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