domingo, 26 de setembro de 2010

Exercício do Sinisterra para a dramaturgia do ator


UNIRIO
DRAMATURGIA
turma 2010/2

EXERCÍCIO DE JOSÉ SANCHIS SINISTERRA PARA CRIAÇÃO DE UMA DRAMATURGIA

DRAMATURGIA DO ATOR

CRIAÇÃO COLETIVA:
Dois autores, dois narradores, dois dramaturgistas e dois atores:


EXERCÍCIO 1

Ela e Ele se olham. Ela traz certo rancor. Ele está sério. Ela está na beira de um rio. Ele se aproxima. Ela olha para Ele novamente. Ele sente muito calor e tira sua camisa. Eles estão trabalhando no rio, lavando roupas. Se entreolham novamente e estranham-se. Ele bate a camisa no quadril dela, que está de gatinhas, e depois começa a afogá-la.

Narrador - Era um tempo antigo... duas pessoas se matavam por alimento.

Ela e Ele se entendem. Riem.

Narrador - Naquele momento lembraram que tudo aquilo podia ter acontecido na infância deles.

Ele puxa Ela.

Narrador – Ela é amante dele. Se amam, mas não podem estar juntos.

Ela e Ele ficam em dúvida e se arrependem. Ela quer sair pela porta. Ele pede pra ela voltar.

Narrador – Mas a entrega era forte e eles não conseguiam se desvincular.

Ela e Ele correm com prazer. Jogam a camisa dele para o outro. Brincam.

ELE – E aí?

Narrador – Tinham a memória da infância e isso não os deixava em paz.

Ele e Ela se sentem proibidos de estar juntos. Ela nega Ele, que avança sobre Ela.

Narrador – Ela era irmã da mulher dele.

Eles ficam tristes.

Narrador – Era uma tempestade de palavras, almas e corpos que se confundiam em sentimentos e palavras.

ELA – Você não pode.

ELE – Tenta.

Ela devolve a camisa a Ele.

Narrador – Outro alguém é escutado de longe.

Ela fica desconcertada e Ele coloca a camisa.

Narrador – Um barulho de helicóptero se aproxima. Eles sabem que Joana chegaria de helicóptero. A irmã olhava com tristeza e paixão.

Ela e Ele apagam as marcas que deixaram na casa, limpam chão e paredes. Continuam deixando marcas. As mãos dele ficam evidentes marcadas no piso com o pó de giz.

Narrador – ouve-se a campainha. Eles sentem medo.

Ela está na janela, de costas pra porta, finge uma cena natural. Ele está na porta.

Narrador – campainha!

Ele bate na porta. Faz todo o clima de estar recebendo Joana com tensão. Começa a se explicar. Ela, na janela, vira já se explicando. Até ver que não era ninguém.

ELE – Você acreditou que era a Joana!

Ele morre de rir. Ela bate nele também rindo, passado o susto da brincadeira.

ELA – Tarcísio!

ELE – Joana! (percebe a gafe) Não, desculpa. Desculpa. Qual é o teu nome? Qual é o teu nome? Qual é o teu nome? Me diz o teu nome.

Ela não responde.

ELE – Mulher que eu amo é Joana.

Ela e Ele destroem a casa, correm loucos pelos cantos. Ela estapeia Ele.

Narrador – Eles se percebem naquele instante. Seus corpos se uniam vagarosamente.

Eles se entregam. Riem. Falam de Joana. Se deitam no chão, como bichos, não entendendo nada além da paixão que sentem.

ELA – Você pode me chamar de Joana.

FIM
  
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EXERCÍCIO 2

Narrador – Eram tempos inquietos aqueles. Setembro mexia com a mente dos dois. Não se mexiam mas fervilhavam por dentro.

Ela está com as mãos pra trás. Ele começa a correr, depois de observá-la bem.

Narrador - Era uma dúvida cruel. Ela vinha de onde? Quem era? Mas ele a seguia na rua e estava perturbado.

Ela – Você não cansa, não?

Ele – Estou cansado. (estende a mão a ela. Ela fica curiosa)

Ela – Está cansado?

Ele – Sem forças, é o tempo.

Ela puxa a cordinha da blusa.

Narrador – Pela primeira vez ele via algo que ela mostrava. Mas ele não gostou.

Ela – Quem desdenha quer comprar.

Ele – Eu quero o pacote todo. (silêncio) Meu corpo te provoca?

Ela ri

Ele - Isso é um sim? (olha para o chão. Quase pisa em algo) Que nojo!

Narrador – Ele falava como se cuspisse pedras nela.

Ele começa a fazer cosquinha nela. Jogam o que ela antes escondia. Brincam de lançar um para o outro. Ela morde. É uma maçã. Ele morde um pedaço.

Narrador – Não restava dúvida que eles não batiam bem... estavam numa praça fazendo códigos nada convencionais.

Ela e Ele escovam dentes. Ela ensina a Ele a escovar.

Ela – Tem que escovar a língua, assim... até dar vontade de vomitar.

Ele vomita.

Narrador – Todos param em volta para vê-los.

Ela – Alguém quer dar dinheiro para ele?

Ele – Estou cansado.

Narrador – Deliram como numa maré.

Ela – É a maré da vida.

Deitam um sobre o outro. Os dois para cima.

Narrador – O peso dos dois abria fendas na terra.

O joelho dela, que está por baixo, se machuca. Ele deita mais sobre ela.

Narrador – Cicatrizes faziam lembrar do passado.

Os Dois - Estamos esperando o médico.

Ela – O médico que vai cuidar de você.

Narrador – A solidão dos dois parecia um apartamento apertado que esmaga.

Ela e Ele sentem calor e se abanam. Começam a sentir frio.

Narrador – Fazem esforço grande para finalizar o trabalho. Hoje é 7 de setembro.

Ela faz pose de estátua de guerra. Ele admira.

Narrador - Em setembro voltavam às fendas que abriram na terra para lembrar de quando se conheceram.

Ele vai até a janela e aponta algo para Ela.

Ela – Eu fazia aquilo antigamente. Mas agora não faço mais.

Ele – Quem é aquele homem barbudo?

Narrador – Um achava que o outro não batia muito bem... então os dois correram até o homem barbado que estava indo almoçar.

Os dois correm e saem pela porta.

FIM

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