sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Atávico

Dramaturgia - UNIRIO
Exercício de apresentação - escrita selvagem. 
Preenchimento de lacunas

Tempo: 6 minutos e 38 segundos.

ATÁVICO

Eu queria preencher-me de mistérios e lacunas pra possibilitar descobertas. Eu tenho vontades ancestrais. Queria falar-te em mais línguas, todas frementes de ansiedade e espera. Sou o acaso da constituição em andamento. Quero estar em mim, estar em ti a todo o momento. Viro palavra pra que caiba em tua boca, na pronúncia quente do silabar que se lambe com letras e se lambuza em meu entendimento. Trago dores dentro de mim que são comuns a todos, mas que sempre me parecem ser apenas minhas. Minhas dores. Mas também sou um açude de paixões submersas. Secretas. Expostas. Profundas. Rasas. Bestas. Abissais. Ando pela calçada e me encostam ímpetos nos pensamentos. Vontade de passar a mão lentamente no rosto de um desconhecido. Às vezes um sol ilumina uma pessoa e você quer ser um pouco de sol. Simples.
Tenho tendência aos sonhos com águas desvairadas, ondas escuras e de volume espantoso. E se desperto no susto de uma realidade cortante, entendo que esse mar é dentro de mim, é um espírito liquefeito de aspirações, turbulências, sutilezas e desejo dos momentos. Não há definições de um. Não há modos de ainda. Há procuras de soluções. Mas sou todo perguntas. Eu, por exemplo, venho constituído de fogo e água. Vezes me evaporo, vezes me apago. Nisso sou reticências... mas sou o encontro de possibilidades. Eu tenho vontades ancestrais. Atávicas. Eu queria escrever-te versos ensolarados que me mascarassem de volúpia. Mas dou-me assim, desnudo e faceiro, pra que não me defina. Pra que seja definido.

Marcelo Asth


Nenhum comentário:

Postar um comentário