quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Interlúdio


INTERLÚDIO

Prefiro criar um interlúdio e tapar o buraco largo da espera com esses sons de regozijo. Emito. Meteorito. Uma estrela caiu agora. Mas não vi, pela quantidade de luzes na cidade. Cabeças de neon distantes dos planetas. Eu criei dois planetas com vista pra Terra. Ainda estou pra te explicar...
Tô parando. Esperando. Desespero. Exagero. Verdade.
Espera a época. É primavera, não sente? Quero deitar na calçada, como a pressa. Mendigar e ter preguiça sem pudor. “Me dá um pouco do senhor? Tô com a fome dos séculos...”. Língua estilingue de sapo. Já!
Entrei dentro de você, sou teu feto e você é meu teto. Fato. Sou fogo fátuo que de fato me consome. Nasço e fico onde quero. Hoje falei com Deus no telefone. "Jesus, passa pra Deus?". Você me viu ligar e perdi meu pé. Como farei pra andar naquele caminho nosso? Um só?
O próximo avião que passar eu pego. Faço sinal da janela. Talvez Austrália. Hoje pensei no banho, às 23h45min, muito cansado: “do seu lado me sinto um canguru”. Não tenho nada de muito interessante, além dos dois planetas com vista pra Terra. Ih, não tenho tempo pra tudo! 
Interlúdio, preenchimento, enchimento da nota, nota, nota musical. E a letra, essa história que desenrola. Alegria barroca. Deu cansaço de mim. Troca comigo de corpo, uns três dias? Tua alma grande vai ficar apertada em minha mixuruquez. Vair sair lépida e amarrotada, com som de rolha de champagne. Espoca. Aí explora o que quiser, mas devolve diferente de quando trocamos. Me atira no formigueiro. O interlúdio é um improviso desse intervalo. Verdade. Exagero. Desespero. Esperando. Tô parando.

Marli Gadot


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