Eu tomo cuidado antes de dormir, porque há um monstro gordo e áspero debaixo de minha cama. Quando piso o tapete onde repousam meus chinelos, ele acorda instantaneamente. Neste momento eu tiro os pés do chão ligeiramente e corro pra dentro do cobertor, que é uma espécie de abrigo contra monstros. E suo frio, muito frio, escorrendo angústia e oração. Aí fecho os olhos e sinto que os olhos dele brilham vermelhos, como que com as conjuntivas inflamadas e calorosas. Parece que junto à chuva, uma respiração ruidosa preenche o quarto. Quando chego à 10ª oração exausto, suado, quase morto, com os olhos tão arregalados que doem as órbitas, eu percebo que ele dorme, como se a mágica do pensamento do apelo desse um jeito no monstro. E os olhos dele cessam fogo, certamente, porque uma brisa parece rondar o quarto. Desmaio. Quando eu acordo e a luz adentra pelas lacunas da persiana, eu sinto que o monstro ainda está ali me esperando, mas nessas horas da manhã eles têm medo de sair de debaixo da cama. Aí eles não assaltam meus pés brancos e assustados. Mas piso o tapete da cama reunindo forças e gritando para as células entrarem em estado de solação já, pra eu ter energia de correr da cama até a porta e girar a maçaneta de forma presta. Tem que ser num tempo preciso, senão mesmo sendo dia claro, o bicho pode estar faminto. Uma besta fera adormecida não deve ser nunca cutucada.
Marcelo Asth
Nenhum comentário:
Postar um comentário