sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Estelar

Quando as estrelas alcançaram seus olhos, tenho certeza de que você habitou um pensamento raro, que poucos acessam, porque nem todos têm essa consciência poética que faz levar aos recônditos espaços de quimera e encanto. Há essas sensações feitas de brilho que esperam que nós nos encantemos com intensidade. E quando a gente se entrega ao trivial e vê que nele há toda uma existência, a gente permanece perplexo diante de um estrondo de vida. Se sente único e besta por pertencer a algo único. É agora. E estrela tá ali todo dia, presente no céu, querendo mostrar-se. Mas ver é algo diferente. A gente se acha possuidor de olhos, mas poucos os têm de fato. Uma brisa, uma lua, mil estrelas e essa praia batendo na mesma hora num saco de sentidos que trago comigo aqui. Tudo isso é feito de espanto. E eu nem sei o que sou e o que serei. A gente é boba demais por se configurar. Se gosta ou desgosta, mas tudo é a mesma coisa, gente pulsando e cheia de medo, desejo e incompreensão. Mas parece que entendo o mundo quando sei que entrando em contato com tudo isso que a gente não percebe assim tão vivo – porque a gente se acostumou de ver – é que o estalo da vertigem se estabelece. Eu quero sentir-me vivo.
Quando o mundo se fez revelado diante da sua presença, tenho certeza de que você sorriu, porque sua alma é boa. Você nem deve ter se dado ao luxo de comentar com alguém, porque quando se passa uma sensação ela morre instantaneamente. Quem adquire um segredo é incapaz de reproduzir. Ele passa como eletricidade em cada parte do corpo e da boca não passa mais. A resistência queima.
Você soube da Terra e dos anjos todos alados que riem de nossa insapiência. Segredos ancestrais. Quero saber do que você soube, mas através do teu sorriso. Será que seus dentes abertos soam como as estrelas? Porque olho pra elas e me encanto, sim, mas não sinto essa vertigem que só alguns merecem. Talvez o seu sorriso me encante mais que primaveras e estelares armações. Podem cair estrelas do céu. Daí faço pedidos e acho bonitinho o rastro. Mas parece-me que olhando esse rasgo que surge da sua fascinação, eu me deleite de forma superior. Talvez cada um olhe a vida de forma espetacular diferente. Pra mim o seu lábio construindo essa razão feliz me diga mais que todo o universo sorrindo em especulações de brilho e eternidade que vagam na escuridão noturna do véu que se desvela. Eu sou um ponto de interrogação com a entonação mais fácil de dar.


Patrick Sgüzel

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