terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Louça

A goteira conta impaciente um tempo que passa lá fora, ritmando um batuque de acalento. A chuva cai fina, mas se acumula sobre o telhado, que no seu limite traz o acúmulo da sujeira que repousa sobre a casa. Sob o teto da cozinha, entregando o ouvido a essa paz, Daniel se perde lavando as poucas louças largadas, enquanto se faz outra chuva na pia.

Ele pensa como a chuva, sorrateira e paulatina. Adensa a espuma da esponja, lavando a sujeira dos pires, do bule, das colheres – restos do café da tarde. Seu pensamento escorre como água e ele vai limpando o que pode parecer alguma impureza de dentro. A vespertina alegria se convertia quando se defrontava com a rotina de encarar a pia e a solidão da carícia da água. E então sorria porque amava e lavava contemplando os sons e a presença do instante que entendia saber serem únicos.


Marcelo Asth

Nenhum comentário:

Postar um comentário