terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Caô

Você diz do que não gosta, do que te aflige, te machuca, o que te enche de insegurança e de um sentimento que nem sabe dizer seu porquê. Você se posiciona, se subtrai, não fala de nada que possa ferir, anda sempre com a cabeça pra frente. Mas você leva lambada, rasteira, insistentes que os outros são quando sabem do que você não quer. Se não quer ouvir, gritam. Se não quer ver, expõem. Se não quer saber, fazem o favor de te lembrar. E você tem que ficar sorrindo, sendo lindo, maduro, crescidinho pra entender que não pode parecer estar errado. Porque você nunca está certo, o problema é seu. Aí você chora e também está errado. E é lembrado do que não gosta e aposta que nunca mais quer saber. Talvez você aprenda a aprender, a ouvir, a ver, engolir. Talvez seja melhor ser o que os outros esperam. Mas você fica entalado, cheio, mastigando a referência. E tem que rir sempre, porque tudo é lindo demais e contemporâneo demais. E você, que é careta, tradicional, quadrado e burro, tem que chorar num canto e sorrir de encanto. Você diz do que não gosta, do que te aflige, te machuca, o que te enche de insegurança e de sei lá o que mais. Você fica remoendo e não entendendo. Você não quer entender.

Olivia Blaudt, mística, lê cartas e cortes 

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