Neiva se encontra eufórica por ter acabado de conseguir roubar num varal perto de sua casa, a cueca de Lourival (um vizinho de rua que considera um homem muito distinto) e por isso está agora em seu quarto, trancada pra ninguém ver, com a cueca entre as mãos, lambendo o tecido vermelho de algodão e esticando o elástico frouxo que tem na borda superior. Passa a língua com mais infantilidade nos três micro-furos da cueca puída e lavada – delícia de cheiro de sabão em pó. Mãe Odalina que instruiu direitinho a moça a cumprir as tarefas pra amarrar seu homem desejado. 7, 14 ou 21 anos.
Segurando a roupa íntima do seu amado, pensa naquelas pernas grossas que se enfiam nas duas entradas que se têm para abrigá-las naquela peça barata. Como ela gostaria de ser uma costura pra poder abraçar aquelas coxas de jogador de futebol de campinho! Quase delirante, ela observa muito interessada o tecido deformado na parte da frente da cueca que, com certeza, abriga em seu bojo um volume desconcertante. Algumas linhas que estão meio soltas ela puxa com os dentes, absolutamente entregue à sua imaginação. Já uma etiquetinha feia que traz o nome da confecção, ela arranca de vez pra guardar em sua agenda.
Marcelo Asth
Nenhum comentário:
Postar um comentário