A agulha com ponta de diamante desliza bailarina enquanto reproduz uma música de outra hora. Seu palco é um disco redondo, carregado de sulcos nas ranhuras dos seus desnivelamentos. A fricção em vibração gira no sentido do relógio, o que preenche de notas nossa história. E a ponta da agulha dança em outro tempo, reproduzindo meio abafada, tropeçando por vezes zonza com a atmosfera ébria que cobre nossa fatia de mistério.
Estando nós dois aninhados num chão, deitados deixando a música contar, a agulha pára e nem percebemos. E mesmo assim se continua música, porque cantamos e, de fundo, ainda na vitrola, se mantém a pulsação do palco giratório. Uma marcação de efeito, como um galope vagaroso. A coreografia acabou, mas as notas perduram consistentes. Dentro dos nossos corpos uma música ainda toca. Dentro da nossa música nossos corpos ainda se tocam. Um espelho adentrando o outro. O amor do nosso toque que dá choque em simbiose.
Estonteados rolamos chão, numa outra partitura de dança. Bailado sem igual, improviso de intimidade.
Marli Gadot
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