quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Salgado

Antes nadava num mar salgado sem deixar de abrir os olhos. Forçou a vista desde cedo a salgar-se e nem percebia o vermelho que produzia. Se via sempre cansado, mas de pulmões plenos de tanto nadar. Mudou-se da cidade litorânea para uma cidade de serras verdes, mas por já trazer um espírito aguado de peixe, comprou um título de um clube para poder nadar. E ao entrar em contato com o cloro mais regularmente, preferiu nadar de olhos fechados sob a linha d'água que roça com a linha de ar. Ainda mais porque nadava no frio da noite e aprendeu a medir distâncias fluidas nas correntes que criava nas raias escuras. Era um peixe cego, sem escamas, tateando águas quase silenciosas e quase sonoras com o bater de seus golpes cada vez mais precisos. Depois de metas de natação, de medir longas distâncias, nadava com destreza sinuosa, escavando leves gotas abraçadas. Até que um dia conheceu uma pessoa que também foi nadar na piscina do clube à noite, mas que nadava com óculos de proteção. E foi rápido perceber que deveria ser gostoso poder olhar um pouco do movimento dela por debaixo daquelas águas tão moles. O pouco de luz que caía sobre a superfície da piscina infiltrava necessária pra se ver bons movimentos. Ele comprou óculos parecidos com os dela e começou a nadar de olhos bem abertos, sabendo agora de toda a totalidade das distâncias do mar que ele em felicidade resgatava.


Marcelo Asth

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