sábado, 5 de fevereiro de 2011

Chopp

Márcio atirava pra todos os lados. Mas quando via alguém tão jovem, lindo e radiante, insistia na provocação. Mandava três mil mensagens pela internet, forçando encontros seguidos de exclamações, comentários e desejos que partiam sempre mais dele do que do outro. A internet era uma solidão. Não conseguia se realizar nos relacionamentos quando se tornavam reais. Ficava besta, produzindo futuro, mais temendo que amando e nunca  entendendo ser de um. Queria ser de todos. Tinha uma carência que dá dó de ver, e uma auto-estima que chegava a ser ridícula. Se achava o bam-bam-bam e todas as onomatopéias juntas. Lia os livros que os objetos de desejo liam, pra poder ter comentário. Se esforçava o coitado, mas era deixado pra trás. Marcava sempre um chopp com os garotos que cobiçava e tentava levar tudo no risinho. Foi tanta negação, inícios frustrados e falta de saber o que queria, que depois de tanto tempo, recebendo agora as mensagens de Cristiane e seus convites para um cervejinha, cedeu aos encantos da moça porque tinha auto-estima elevada e agora um combustível para nutri-la. Começaram a namorar, noivaram, casaram. 

Márcio continua mandando scraps para os garotos, querendo se instalar nas cabeças alheias e querendo ser conquistado.


Marcelo Asth

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