segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Banquete

Eu me sinto servido agora num banquete, e Platão amola as facas pra cortar meu coração. Eros lambe os beiços de pau duro. De olhos fechados escuto alguém que diz algo sobre a téssera complementar. Procuro minha metade assim que me cortarem ao meio. Já achei. Eu fico com o Deleuze que diz que o charme do outro se encontra em seu ponto de demência. Alguém que não desmorona. E é melhor que seja assim, pois a loucura nos salva. Quem passeia na corda-bamba atirando pétalas para os abismos é detentor da graça celestial. O Roland Barthes me diz tudo o que já sei, mas que talvez não tenha parado pra pensar ainda. Ele põe tudo numa bandeja analítica e me serve o amor fatiado, como aperitivo. E digerindo o que me servem, Foucault brinda a festa com palavras que dizem que "temer o amor é temer a vida e os que temem a vida já estão meio mortos". E Dona Penha, que amou seu marido (agora morto) por tantos anos, sentada na quina da mesa, ainda se vê como no dia em que se casou. Está certa.

Então, fico aqui, parado e deitado sobre a mesa, sorrindo louco, sem temer meu estado de torpor, sem querer me entender. Louco. Querendo que a faca me lamba profundamente. Sirva.

Marcelo Asth

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