sábado, 23 de julho de 2011

Só tão lugar cheio

O sótão já está com a porta de acesso emperrada. Os cupins e os fantasmas são a única energia que por lá passeia. As tábuas velhas, árvores deitadas e mortas sob meu teto, sustentam um peso de proteção. Ali o passado está acorrentado a elos de poeira e tédio. Nem o sol mais entra lá para decifrar em feixes o ar cheio de movimento. Quando eu morrer, o sótão morre junto.


Marcelo Asth

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Gastronomia

Vontade de pedir a conta e sair da mesa. Mesmo sendo caro, pago de cara, sem prestações. O ambiente nunca foi tão exaustivo. As pessoas são barulhentas e arruínam minha espera. São turbulência no enfado em que seus olhos passam pelos quadros de paisagens falsas e pelo desejo da saciedade. Eu vejo o cardápio de pessoas que já foram esperadas, mastigadas e digeridas. E me entrego a uma gastrite lancinante, querendo pôr fogo no estoque da cozinha. Desejo incendiário de abrir as bocas de gás – inclusive a minha.
Houve um tempo em que os pratos chegavam quentes, fumegantes, encantados de aroma leve e suculência adequada ao paladar amestrado.
Agora eu cuspo no prato em que você comeu - pra ter certeza de que agora você não espeta mais teu garfo num prato que já foi o teu preferido.

Emanuel Vidal