domingo, 18 de agosto de 2013

Casa do rio

A casa é a tapada pela árvore, próxima ao rio Bengalas. Atrás dos dois telhados - vermelho e cinza.

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Hoje, dia frio, mais que frio, em Friburgo, vou à varanda de minha casa pra ver as névoas cinzas azuis brancas cobrindo a ponta das montanhas. Olho pro rio que cruza lá embaixo da vista da paisagem e me vem a infância passando nas águas. Vi uma casinha branca e me lembrei de uma história: quando criança, eu e minhas irmãs tínhamos um imaginário fértil em relação às casas ribeirinhas, de costas pro rio. Elas ficavam apontando pra um casebre velho de janelas estranhas, lá no longe, e dizendo "tá vendo uns vultos pretos passando nas janelas, umas figuras estranhas?" E eu concordava e realmente via. E tinha a tal da casinha branca de janelinhas arredondadas que eu achava a casa mais linda do mundo. Como eu queria aquela casa... e, sem dúvida, ela era minha. Eu dizia "aquela casa é minha" e dizia pra todos, mostrava a minha casa na beira do rio. Uma vez um ônibus vermelho ficou à venda na outra margem do rio. Ele também ficou sendo meu por um tempo. Minha ideia o comprou. Depois a minha casa foi reformada, ganhou andar a mais, placa de captação da luz solar e uma árvore que subiu cobrindo boa parte dela. Ela não é mais minha. Não é mais, porque não digo, não mostro, não apresento aos outros e a mim. Mas é o alvo de uma lembrança, dos dias em que morei com os olhos naquela casa distante.

Marcelo Asth


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Fico

Fico à espera de uma surpresa amorosa, de acordar sem esperá-lo e de repente saber que ele vem. Fico no aguardo, bobagens alimentando uma invenção da expectativa. Fico no sono do grude, do chiclete, da declaração, do amor desmedido, de uma certeza de carinho que explode. Fico, fico, fico, mas acabo me acabando. Um carinho demorado, um romantismo sofrido, uma idolatria como a que ele experimenta por quem o fascina. Mas eu não fascino, só cobro, espero, mando e desmando. Só não mando no que espero. Erro. Eros. Era. Fera. Ferra. Mão dada, coisa assumida, desejo de filme, me tornar importante. Mas sou uma sombra estranha, algo que chegou. Ficou. Sinto isso. Sinto muito.

Vera Ayub