Sei que sou eterno, uma sucessão de muitos. Dentro disso há toda a dimensão de minha pequenez. Sei e me sinto assim. Me compreendo essa partícula que está no meio das toneladas de pó que se acumulam. E nesta vida, não desejo me punir por não me ver grande. A diferença dos grandes homens para os ditos pequenos é nada. Ser lembrado pela história das bocas? Jamais! Quero a liberdade de ser eu, com todo o limite, criando vínculos, tentando me definir da forma mais aprazível a mim. Não digo: fazer o bem (mesmo este sendo predominância), pois todos somos humanos e os sentimentos espalhamos. Não sou alguém do mal, meus caminhos são guiados pela boa educação de olhar o outro. Doçura. Sou um ser humano meio tépido, em cima do muro, desbotado (nem cor, nem ausência). Sendo assim, todo miúdo, sabendo quem sou, eterno, tangenciando o bem, espalhando o afeto, sei que dali a pouco me torno finito. E vou progredir alma, minha casca estará tombada. Talvez vá pra outro planeta; toda vida é uma missão. Daí posso ser o gigante que alguém espera. Por enquanto, fico aqui, sem anseios de ser o que não posso nem quero. Pois tudo no mundo é a cobrança de ser algo que não é. A transformação é imperiosa e vem gritando, sempre. O que mudar, será mudado. Me esforço para estar mudando para lugares de paz, felicidade. Fujo dos lugares falsos, com muita gente rolando ego, bebendo esgoto, esgotando tudo, fedendo a egoísmo. Busco sempre dignidade, prazer, amor, sexo, família, o bom do conforto (que não se confunda ao luxo) e coisas que encantem meu olhar. Por isso sentencio algo pra mim: não sou acomodado. Por vezes preguiçoso - admito, não há mal algum nisso. Mas é na preguiça que se cria o ócio, que pode gerar o criativo, ou a ruína da ansiedade. Já entendendo o lugar da preguiça, aciono o botão da melancolia e fico ali me maturando até explodir "chega" e sair do ninho. Daí dou boas voltas, faço, faço, faço, faço, ação e me canso. Retorno em vitória. Mas necessito férias. Quero progredir espírito, mas para isso não preciso saber o mundo inteiro. Pretensão saber de tudo, burrice fugir de tudo e se aquietar no nada. Eu sou tépido, meio-fio, em cima do muro, sol das 18h. Não sou o que explode a maravilha de fazer alguém se apaixonar e idolatrar. Não sou o que move montanhas e gentes nos rastros. Tenho minha luz interna, mas é roxa, boa pra ficar numa boa, de abracinho. Eu sou essa coisa que se define e não sabe de nada. Eu amo muito, demais, sou louco e dou o coração em sangue pra ser assim. E meus olhos brilham por isso. Adorei passear por cada canto com o amor, medir ruas e palavras, cama, chão, palavras, cidades, olhares. Estou dentro de outra pessoa também. E quero adorar muito mais, para além. Quero viver como um broto nesse outro, saindo verde pela culatra, esbanjando a clorofila dos ramos felizes. Não quero sofrer, tenho preguiça disso. Sofro no detalhe. Vou alcançar o máximo da liberdade e da felicidade plena no amor. Sou todo eu, todo seu. O mundo vai me consumir, não sei quando. A validade é pouca, outra, um dia a Terra sabe. Pode ser velho, moço, no auge, no fundo do poço. Eu sei que sou dessa pequenez de que são feitas as estrelas bobas, miúdo, com olhos abertos para o que encanta. Eu amo, me amo, amo esse viver a vida. Não tenho grandes expectativas - não serei flagelado por isso. Minha expectativa é estar em sintonia, crescer pra mim mesmo e não me aguentar de sorriso.
Marcelo Asth